Nascido com 23 semanas, José Pedro foi declarado morto ao nascer. Doze horas depois, um choro no caixão revelou um erro médico devastador, mas a esperança da família durou pouco. Sesacre e Polícia Civil investigam o caso.
Por Jardel Cassimiro para a Revista Correio 101
A cerimônia que deveria ser de despedida transformou-se, por um breve e angustiante período, em um sopro de esperança. José Pedro, um recém-nascido de apenas 520 gramas, declarado morto pela equipe médica da Maternidade Bárbara Heliodora, em Rio Branco (AC), chocou a família ao chorar dentro do caixão, 12 horas após seu óbito ter sido atestado.
Contudo, a esperança que nasceu daquele choro frágil apagou-se neste domingo (26). O bebê, que lutava pela vida na UTI Neonatal desde o incidente assombroso, não resistiu.
A jornada de José Pedro foi marcada pela adversidade desde o início. Ele nasceu na noite de sexta-feira (24), fruto de um parto prematuro extremo, com apenas 23 semanas de gestação. Sua mãe, Sabrina Souza da Costa, é natural de Pauini, no Amazonas, e havia se deslocado a Rio Branco especificamente para buscar tratamento médico. O peso do bebê, 520 gramas, refletia sua extrema vulnerabilidade.
Segundo a Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre), após o parto, a equipe médica que atendeu Sabrina não detectou sinais vitais no recém-nascido. A secretaria informou em nota que "todos os protocolos de reanimação" teriam sido seguidos. Sem resposta aparente, o óbito foi declarado.
O corpo foi então liberado para a família, juntamente com a dor da perda e a documentação para o funeral.
O velório ocorria há cerca de 12 horas. No ritual de dor, uma parente, movida por uma intuição ou pela necessidade de um último adeus, pediu para abrir o pequeno caixão. Foi nesse momento que o impensável ocorreu: o bebê, que jazia preparado para o sepultamento, começou a chorar.
O luto foi instantaneamente interrompido pelo choque e, imediatamente, por uma corrida desesperada contra o tempo.
José Pedro foi levado às pressas de volta à Maternidade Bárbara Heliodora, o mesmo local que havia atestado sua morte. A pediatra Mariana Collodetti, que assumiu o caso na UTI Neonatal, descreveu a situação à imprensa local. O bebê, que na verdade tinha entre 10 a 12 horas de vida quando foi "redescoberto", foi internado em estado gravíssimo.
Ele foi imediatamente entubado, colocado em uma incubadora aquecida e recebeu um cateter umbilical para nutrição e medicação. Durante sua breve estadia na UTI, seu estado foi considerado "grave, porém estável", recebendo todos os cuidados intensivos disponíveis para um caso de prematuridade tão severa.
A fragilidade extrema de suas 23 semanas de gestação, talvez agravada pelas cruciais horas em que permaneceu sem assistência médica adequada, cobrou seu preço. Neste domingo, o hospital confirmou o falecimento de José Pedro, desta vez, definitivo.
O caso, que transita entre o milagre e a suspeita de negligência, abalou a opinião pública e expôs uma falha grave nos protocolos hospitalares. A Sesacre agiu rapidamente: instaurou uma apuração interna rigorosa para dissecar as circunstâncias que levaram ao erro médico estarrecedor.
A equipe responsável pela emissão do primeiro atestado de óbito foi preventivamente afastada de suas funções enquanto durar a investigação. Paralelamente, a Polícia Civil do Acre também abriu um inquérito para apurar as responsabilidades no caso.
A morte de José Pedro deixa mais perguntas do que respostas e lança uma sombra sobre os procedimentos adotados em partos de prematuridade extrema. A família, que viveu a dor da perda duas vezes em 48 horas, agora aguarda que as investigações esclareçam como um choro de vida pôde ser silenciado, ainda que temporariamente, por um atestado de óbito.